Florença: museu de esculturas a céu aberto

Quem acompanha o Detalhes de Viagem há mais tempo sabe que Florença é uma das nossas cidades favoritas em todo o planeta. A atmosfera artística da cidade e as construções seculares ajudam a montar um cenário em que só de andar pelas ruas da cidade já temos aquela sensação de que Florença é um museu de esculturas a céu aberto.

É verdade também que uma caminhada sem rumo pela cidade não faz bem o perfil de todos os viajantes. Como todos sabemos, há diversos perfis de turistas. Alguns preferem conhecer rapidamente os principais pontos turísticos das cidades absorvendo o máximo de conteúdo em um curto espaço de tempo. Já outros preferem dedicar mais tempo ou abrem mão de ver alguns lugares para que possam conhecer com mais calma os pontos turísticos e até mesmo vivenciar um pouco a vida local.

Acontece que quando se trata de Florença, não importa seu perfil. Uma constante no seu roteiro serão as esculturas. Elas estão presentes no meio das praças, encrustadas nas paredes de várias construções antigas, dentro de museus, escolas e igrejas. Ufa! Para nossa sorte, é quase uma overdose de esculturas. Mas também, a cidade que guarda uma das esculturas mais famosas de todos os tempos, que é o David de Michelangelo, não podia ter outra cara, não é mesmo?!

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Rua bem no meio da Galeria Ufizzi, cheia de esculturas nos pilares.

Piazza della Signoria

Como não é possível e nem recomendável circular de carro pela parte central da cidade, caminhar continua sendo o melhor meio de transporte por aqui. Por isso observar a riqueza da cidade enquanto caminha pelas ruas não é só uma questão de prazer, é quase como respirar. Respirar Florença, é claro!

Como acreditamos que são os Detalhes que enriquecem qualquer viagem, preparamos um punhado de informações e curiosidades sobre algumas esculturas para que apreciem enquanto conhecem Florença e façam do seu passeio uma verdadeira experiência!

E com certeza não há lugar melhor para começarmos essa aventura do que pela Piazza della Signoria. Esta praça em L fica na parte central de Florença e é onde está localizado o Palazzo Vechio, que simboliza a sede do poder civil. Mas não é só de história que a praça sobrevive. É aqui também onde se concentra boa parte do burburinho da cidade. Durante o dia é possível encontrar muitos turistas caminhando e observando as construções famosas da praça. Quando anoitece, são os ambientes dos restaurantes e bares com pessoas animadas que tomam o cenário da praça. Além de tudo isso, é nesta Piazza que podemos encontrar várias esculturas e réplicas famosas e é por ela que começaremos o tour de esculturas.

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Palazzo Vecchio lindão numa manhã de sol.

Fonte de Netuno

Feita em mármore e bronze, esta obra foi encomendada ao artista Bartolommeo Bandinelli, que chegou a escolher o mármore bruto para a escultura, mas faleceu antes de começar o trabalho. Foi então que Bartolomeo Ammanati, próximo de Michelangelo e mais conhecido pela suas obras arquitetônicas do que pelas suas esculturas, venceu a concorrência e deu continuidade à obra. A parte principal da fonte foi esculpida entre os anos de 1563 e 1565, porém foram necessários pelo menos mais dez anos para acrescentar os deuses fluviais, os sátiros risonhos e os cavalos marinhos em torno de Netuno que completam a obra toda.

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Fonte de Netuno na Piazza dela Signoria.

Talvez vocês estejam se perguntando porque esculpir e colocar um Netuno no meio da praça de Florença?! Até onde consegui pesquisar, o motivo seria para celebrar as vitórias navais da Toscana. Seja como for, é um belo ícone que vale a parada.

Uma outra curiosidade sobre a escultura é que dizem que Bartolomeo se inspirou nas feições do Cosimo I, duque de Florença, para esculpir Netuno. Coloquei uma pintura do Cosimo I abaixo para vocês compararem com o Netuno. E aí, acharam parecido?

 

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Esta é uma pintura de Cosimo I . Acharam parecido com Netuno?

David de Michelangelo

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Há quem acredite que esse é o original, de tão bem feito!

A escultura de David de é uma das esculturas mais famosas do mundo inteiro até hoje. Talvez você possa se surpreender de encontrá-la no meio da Piazza embaixo de chuva e sol. Não se preocupe, a estátua que está na Piazza é na verdade uma réplica da obra prima original. A réplica está na praça porque a original ocupou aquele lugar até 1873, quando foi então transferida para a Galeria dell’Accademia. Se você quiser saber como conhecer pessoalmente a escultura original de David de Michelangelo, basta clicar nesse link.

Hércules e Caco

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Acho que Caco não está numa situação muito boa…

Ao lado da réplica de David, é possível observar a escultura de Hércules segurando Caco pelos cabelos. Feita em mármore, esta estátua foi esculpida pelo artista Bacio Bandinelli entre os anos de 1530 e 1534. A escultura retrata uma das passagens dos famosos “Doze Trabalhos de Hércules”.

Segundo conta a lenda, Hércules roubou o gado de Gerião, o rei de Tartesso, para cumprir uma das doze tarefas tidas como impossíveis para um mortal. Hércules realizou essas tarefas como autopenitencia por ter matado sua própria família em um ato de loucura. Já Caco, filho do Deus do Fogo Vulcano, costumava roubar artefatos dos Deuses para vender no “mercado paralelo”. Ele furtou alguns dos melhores touros e novilhos do recém roubado gado de Hércules. Apesar de Hércules não ter encontrado Caco ao acordar e notar o roubo, o destino foi implacável. Ao passar próximo da caverna onde Caco morava, Hércules ouviu um mugido de seus bois. Bom, isso é o suficiente para vocês imaginarem o final da história que está retratada na imagem da escultura.

Um fato curioso é a relação do tamanho da escultura com a história contada sobre Caco. Caco foi retratado como um gigante semi-humano por Virgílio, na epopeia Eneida. Já a escultura tem mais de 5 metros, o que ajuda a idealizar e imaginar como seria o tamanho desse personagem mitológico se fosse real.

Perseu e Medusa

Preparamos esse post para que você conheça a história e onde ver as incríveis esculturas que estão espalhadas pelas ruas de Florença. Perseu e Medusa.
Não viramos pedra, estamos bem! Florença é um museu de esculturas

Procurando na galeria mais a direita, você encontrará a Loggia dei Lanzi. Essa é uma das esculturas mais conhecidas e cheias de histórias da praça, e talvez da cidade. Afinal, quem nunca ouviu falar de Perseu e da Medusa? Há tantas lendas, histórias e poemas envolvendo este monstro mitológico, que eu precisaria dedicar um post só para esse tema caso quisesse abordar tudo o que já foi escrito sobre essa história. Como essa não é a ideia, resolvi escolher como referência a versão da Medusa escrita pelo poeta romano Ovídio que conto aqui na sequência.

A lenda segundo Ovídio

Ovídio sugeriu que Medusa seria uma linda sacerdotisa de Atena que, tendo cedido às investidas de Poseidon, foi transformada pela deusa em um ser tão horripilante que bastava olhá-la para ser transformado em pedra. Como se isso não fosse desgraça suficiente, a maioria dos mitos contam que um herói semideus chamado Perseu, recebeu a missão de matá-la e trazer sua cabeça como um presente para o Rei Polidetes, de Sérifo.

Apesar do aclamado herói, a missão só obteve êxito mesmo porque os deuses Atena, Hermes e Hades contribuíram com presentes. Perseu recebeu as sandálias aladas, o Elmo da Invisibilidade e um conjunto de espada e escudo tão polido que pôde ser utilizado como espelho, evitando que Perseu fosse transformado em pedra antes de matar a Medusa.

De fato é uma lenda um pouco trágica e confesso que nunca deixo de me surpreender com os pedidos estranhos que os Reis destas histórias faziam. Seja como for, pelo menos nesta história, o rei não se deu bem. Perseu se vingou da tarefa estranha que precisou executar e transformou o rei em pedra e entregou a sua cabeça petrificada para a deusa Atena, que a colocou em seu escudo. Acho que foi uma mensagem clara aos reis da época do que deveriam ou não pedir à um herói mitológico, não é mesmo?!

Benvenuto Cellini

Talvez agora você esteja se perguntando o que tudo isso tem a ver com Florença? Bom, Cosimo I (sempre ele) idealizou a estátua de Perseu e Medusa em bronze e solicitou que Benvenuto Cellini o fizesse. Cellini, nascido em Florença em 1500, era ourives, escultor e, segundo consta em sua autobiografia, também muito festeiro e encrenqueiro. Independente da fama que carregava, forjou com maestria essa escultura que provavelmente você estará olhando agora ou se preparando para vê-la em breve.

Uma curiosidade sobre essa escultura é que ela foi a única que foi encomendada e idealizada desde o princípio para de fato estar na galeria. Todas as demais foram trazidas oportunamente com o tempo.

Outra curiosidade é que o pedestal que esta ali hoje é uma cópia. O original está bem protegido em Bargello, um museu de esculturas em Florença.

O Rapto das Sabinas

Preparamos esse post para que você conheça a história e onde ver as incríveis esculturas que estão espalhadas pelas ruas de Florença. O rapto das Sabinas
Uma das nossas esculturas favoritas. Note como o artista conseguiu fazer com que um bloco duro de mármore parecesse macio e vivo como a pele. Florença é um museu de esculturas

Aqui temos outra estátua muito famosa que ocupa uma posição de destaque na galeria. Quando estiver de frente para ela, peço que dê uma volta completa na estátua para vê-la por todos os ângulos. Quando terminar, repita essa volta algumas vezes. Parece-me que é assim que essa estátua foi feita para ser vista. Por todos os lados para que se observe todos os detalhes.

As expressões nada serenas dessa escultura retratam um dos episódios mais famosos da história romana e é conhecida como: O Rapto das Sabinas. Segundo Lívio, autor da obra histórica que remonta a criação de Roma, Rômulo e seus seguidores observaram que haviam poucas mulheres entre eles quando fundaram Roma. Sendo assim, trataram de negociar com seus vizinhos a possibilidade de se casarem com as mulheres sabinas. Ao terem seu pedido negado, Rômulo teve uma brilhante ideia: “Por que não atrairmos as mulheres para a cidade e então raptá-las?”. Utilizando como desculpa um Festival em homenagem ao Netuno para atrair as mulheres sabinas, várias pessoas vieram até Roma e várias delas foram raptadas.

As mulheres puderam escolher

Porém, ainda segundo o autor, engana-se quem pensa que as mulheres raptadas foram forçadas ao matrimônio. Na verdade, Rômulo suplicou a cada uma para que se casassem com os Romanos, oferecendo-lhes direitos civis e de propriedade. Muitas delas não só aceitaram como foram importantes para o futuro da cidade. Ao que parece, depois de algumas guerras com os seus vizinhos, estas mesmas mulheres foram responsáveis por unir Rômulo e o Rei Sabino Tácio, de forma que ambos governaram juntos até que morressem.

Uma curiosidade impressionante sobre essa obra idealizada pelo artista francês Giambologna entre os anos de 1579 e 1583, é que foi esculpida em uma única peça de mármore. São três personagens tão expressivos espremidos em uma única peça contando uma das histórias mais interessantes de Roma. Você há de concorda que ela merecia esse espaço de destaque, não?”

Hércules e Nesso

Preparamos esse post para que você conheça a história e onde ver as incríveis esculturas que estão espalhadas pelas ruas de Florença. Hércules e Nesso
A essa altura do passeio você pode concluir que não parecia uma boa idéia desafiar Hércules. (Florença é um museu de esculturas)

E não é que Hércules aparece retratado novamente em mais uma escultura na praça. Esta foi uma das últimas obras de destaque de Giambologna, renomado artista e que trouxe o mesmo estilo e requinte do Rapto das Sabinas que vimos acima para essa obra. O que mais chama a minha atenção é que, diferentemente de outras esculturas da praça que antecedem ou sucedem um conflito em uma retratação quase estática da vitória ou da derrota, a luta ali parece estar acontecendo. Quase que podemos ver os dois em movimento no que parece ser o ponto alto do conflito entre os dois, talvez o golpe de misericórdia.

A história ali contada é de quando Hércules mata Nesso por tentar violentar sua mulher, Dejanira. Mas Hércules também não sai impune. Nesso convenceu Dejanira de que seu sangue seria capaz de fazer com que Hércules a amasse para sempre. Ela então banhou as vestes de Hércules no sangue e o entregou ao herói, mal sabendo na verdade que o sangue era um veneno muito poderoso que mataria seu marido.

Menelau e Patroclo

Preparamos esse post para que você conheça a história e onde ver as incríveis esculturas que estão espalhadas pelas ruas de Florença. Menelau e Patroclo
Um pouco diferente do filme Tróia, não? Florença é um museu de esculturas

Colocados em uma posição menos privilegiada, mas também muito belas, temos as esculturas de “Menelau e Patroclo” e o “Rapto de Polissena”. Aparentemente o rapto de mulheres era um assunto de destaque para os escultores naquela época

Não há muitas informações sobre a primeira obra, já que não se sabe o autor e nem mesmo quando foi esculpida. As únicas certezas que se tem é que foi adquirido por Cosimo I por volta de 1570 e que foi exposto em vários outros lugares de Florença antes de ser levado à Loggia dei Lanzi. De qualquer forma, apesar das críticas aos restauros feitos em um dos braços de Patroclo e no elmo de Menelau, a possível origem romana dessa estátua e a história a qual remonta, com certeza vale a observação e o registro de mais essa estátua da galeria.

O filme de Tróia

A escultura conta uma passagem que provavelmente você já leu em algum livro ou assistiu em algum filme. Ainda não identificou? Lembra-se quando o Brad Pitt interpretou Aquiles e em uma cena do filme Tróia em que ele se recusa a continuar a guerra por uma desavença com Agamemnon? Ou ainda quando aquele rapaz criado com Aquiles tomou seu lugar na batalha com o príncipe Heitor e foi morto? Pois bem! A cena da escultura remonta a morte daquele rapaz conhecido como Patroclo. Quem o segura é Menelau, rei espartano e herói nobre e rico da mitologia grega. Talvez você o conheça mais porque era o marido de Helena e irmão mais novo de Agamemnon.

Os filmes são bacanas, mas Patroclos e Menalau não costumam ser retratados de forma positiva como são em alguns poemas históricos. De qualquer forma, aqui temos esta escultura romana que nos conta uma parte importante desta história tão conhecida que foi a Guerra de Tróia.

O Rapto de Polissena

Quanto ao Rapto de Polissena, ao menos sabemos quem o esculpiu: Pio Fedi. Apesar de ter sido esculpida “recentemente” (1865), esta obra também ajuda a contar parte da história da Guerra de Tróia, ou pelo menos uma de suas consequências. Aquiles se apaixonou à primeira vista por Policena e chegou a propor ao seu pai, o Rei de Tróia, a retirada de seus soldados da guerra.

Como isso não garantia a saída dos demais gregos da guerra e o rei não via com bons olhos casar sua filha com um inimigo, a oferta foi recusada. A mãe de Policena, no entanto, viu ali uma oportunidade de mudar o rumo da guerra e tramou com os guerreiros mais valentes de Tróia uma emboscada para Aquiles. Ela disse para Aquiles que daria a mão de sua filha no Templo de Apolo, onde aguardou a sua chegada para o que seria a última vez que Aquiles lutaria com alguém.

Agora que já desvendamos quem é a mulher raptada nesta obra e Aquiles não a raptou, resta saber quem a está levando. Este seria Pirro, que movido pela vingança ou por um pedido do espírito de seu pai, raptou Policena para que fosse morta também. A trama contada pela escultura também revela a espada que matou o irmão de Policena, deitado ao chão e o desespero de sua mãe, que tentava protegê-lo.

Demais esculturas

Preparamos esse post para que você conheça a história e onde ver as incríveis esculturas que estão espalhadas pelas ruas de Florença
Tão pensativa…(Florença é um museu de esculturas)

No mais, existem outras obras ao fundo da galeria que podem ser observadas. Você encontrará algumas estátuas femininas identificadas como Matidia, Marciana, Thusnelda, Agrippina Minor e Sabina. Não há muitas informações disponíveis sobre essas obras, mas sabemos que datam a época de Trajano e Adriano e que aparentemente esculpidas por um bárbaro e descobertas em Roma em 1541. Considerando sua idade e por não serem bem conservadas, é de se imaginar que foram restauradas de forma significativa ao longo do tempo.

Por fim, você vai se deparar com os Leões di Medici. Na verdade, estando em Florença ou Veneza, é bem comum se deparar com esculturas dos Leões, já que se tratam de símbolos para estas cidades. O mais visivelmente antigo é dos tempos romanos, enquanto o mais novo e de mármore foi esculpido em 1598 por Flaminio Vacca e trazido para Florença em 1789.

Preparamos esse post para que você conheça a história e onde ver as incríveis esculturas que estão espalhadas pelas ruas de Florença
Leãozinho tristonho, mas lindo, de Florença. Florença é um museu de esculturas

Como conhecer essas esculturas?

Como comentamos ao longo do texto, todas essas esculturas estão na Piazza della Signoria. A praça fica do lado da Galeria degli Uffizi e próximo da Ponte Vecchio. Como eu tenho certeza que em algum momento essa praça será passagem para visitar algum ponto turístico do seu roteiro, aproveite para parar e apreciar todas essas esculturas nessa praça histórica da cidade.

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Ufa! Depois de ver tantas obras, não tem como não ficar deslumbrado com Florença e concordar porque a consideramos um museu de esculturas . Isso porque estas são apenas algumas das muitas e muitas outras espalhadas pela cidade. Claro que faltou a talvez mais conhecida e original escultura de David de Michelangelo, mas achamos que tamanha obra e seus detalhes merecia um post especial.

Espero que tenham gostado dessa jornada pelas esculturas da cidade e não deixem de nos acompanhar nas nossas redes sociais (Instagram e Facebook). Até daqui a pouco! 😉

Um comentário em “Florença: museu de esculturas a céu aberto

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