Olá Viajantes! Dizem que quem esteve em Manaus e não conheceu o Teatro Amazonas não conheceu Manaus. Pra que você não deixe de conhecer o que talvez seja a principal atração turística da cidade, preparamos esse post: Manaus – Teatro Amazonas e uma visita guiada por sua história.
Então não poderíamos começar esse post de outra maneira que não com essa frase provocante. O Teatro Municipal de Manaus, como também é conhecido o Teatro Amazonas, não é apenas uma casa de ópera ou espetáculos. É um ícone histórico que ajuda a entender toda a biografia da cidade e parte da história do Brasil em um dos períodos mais ricos e importantes da região para o mundo.
Puxa! Mas qual a razão disso tudo?
Precisamos entender duas situações de contexto quando falamos sobre o Teatro:
1. O Ciclo da Borracha: Este foi um dos períodos históricos que moldou toda a região e que viveu seu auge no final do século XIX e começo do século XX. Toda essa riqueza da extração de látex das seringueiras e a comercialização da borracha, trouxeram os holofotes do mundo para Manaus. Foi um momento de muito investimento estrangeiro, sobretudo dos europeus, e de muitas imigrações. A cidade cresceu e se desenvolveu em volta deste núcleo elitizado que estava se formando e por ele foi influenciado. A arquitetura e o modo de se vestir foram baseados no estilo Art Noveau. A cidade brasileira mais europeia passaria então a ser conhecida como a Paris dos Trópicos.
2. Proclamação da República: O Brasil havia acabado de deixar de ser oficialmente um império neste período. Viveu-se um tempo de otimismo econômico influenciado pela exportação de café e pelo ciclo da borracha como resultado da segunda revolução industrial e do desenvolvimento da indústria automobilística internacional. Esse foi um período de patriotismo para com as cores da bandeira e símbolos da república ao mesmo tempo que uma “nova” aristocracia emergia e que queria marcar época e tinham dinheiro em caixa para isso.
Dentro deste contexto, surge desta elite a exigência da construção de um teatro como necessidade natural de todo esse progresso econômico trazido para a região. Em vários lugares do mundo o Teatro era o ambiente certo para a elite se encontrar e ser vista. Os políticos muito influentes da região concordavam com essa necessidade e então nasce o projeto que daria vida ao Teatro Amazonas.
Quem é Eduardo Ribeiro e por qual motivo o nome dele está em todo o lugar quando pesquiso sobre o Teatro?
Toda grande obra pública no Brasil precisa de um influenciador de fato. Foi no político Eduardo Ribeiro que o Teatro encontrou seu grande impulsionador.
Político de grande prestigio, Eduardo Ribeiro foi o primeiro governador negro do Amazonas. Apesar de não ser o idealizador do Teatro, foi o grande responsável por acelerar e terminar a construção desta e de muitas outras obras no estado dentro desse período que continuam de pé até hoje. Tanto empenho lhe rendeu homenagens com seu nome eternizado nas paredes do teatro.
Já entendi que ele é histórico, mas é um Teatro bonito para ser visitado?
Não se trata apenas de um teatro de cunho histórico, é uma obra muito bonita. Com a participação de vários arquitetos, construtores, pintores e escultores nacionais e estrangeiros, cada parte do museu foi pensada com cuidado.
As peças de ferro foram trabalhadas na Inglaterra e Escócia. Os pisos são de madeira brasileira e necessitam de cuidado especial até hoje. Há vários lustres de murano italiano nos salões principais. As escadas, esculturas e colunas são de mármore Carrara e as telhas são de trabalho francês ao estilo Louis XV. Um luxo só, não é mesmo?!
Atualmente pintada de cor rósea especialmente elaborada e patenteada para o Teatro, a construção já conheceu outras cores em sua história. Originalmente fora pintada de branco e cinza e viveu essas mesmas cores nos tempos de ditadura.
A Exótica Cúpula
Além da cor única, outra grande estrela do Teatro é sua exótica cúpula. Concebida pela Casa Koch-Frêres de Paris em 1895, possui uma estrutura de aço e é revestida com cerâmicas policromadas. As telhas são em formato de escamas de peixe e são vidradas e esmaltadas nas cores verde, amarelo, azul e vermelho. Não só as cores, mas alguns formatos também lembram a bandeira brasileira. Como eu disse no começo deste post, é importante entender o contexto histórico do momento em que o teatro foi construído.
Como faço para visitar?
Existem duas maneiras para se conhecer o teatro: em uma visita guiada de pouco menos de uma hora ou então acompanhando alguma peça ou espetáculo quando estiver pela cidade. A verdade é que uma experiência não exclui a outra.
Você pode comprar os ingressos da visita guiada na hora, mas recomendamos que reserve com antecedência diretamente no site do Teatro. Dessa forma você garante um dos poucos lugares disponíveis no passeio que acontece de hora em hora a partir das 9h.
No momento em que escrevemos esse post, o ingresso inteiro custa R$ 20 e existe a possibilidade de meia entrada para estudantes e professores. Crianças de até nove anos não pagam. Chegue com alguns minutos de antecedência para validar sua reserva e pagar seu ingresso.
Conta mais sobre a Visita Guiada
É no salão de entrada onde o passeio começa. Após uma breve introdução e algumas regrinhas sobre a visitação, partimos imediatamente para a Sala de Espetáculos.
Somos convidados a nos sentar em um dos 701 lugares distribuídos entre a plateia e os três andares de camarote enquanto nos é passada informações valiosas sobre a construção do museu e seu contexto histórico. Dos 701 lugares disponíveis, apenas 689 são em tese comercializáveis. Isso porque 12 lugares ao centro do camarote são destinados ao governador do Amazonas. Frequentemente vazio nos espetáculos, a cortina do camarote fica aberta como forma de homenagem ao Brasão da República que fica bem ao centro do espaço. Mais uma vez o contexto histórico da nova República se fazia presente na construção do teatro.
O pano de boca
Ainda no Salão de Espetáculos, podemos observar o pano de boca, que nada mais é do que a tela que ocupa toda a entrada da sala, que cobre toda a boca de cena e que fica na frente da cortina antes de começar o espetáculo. Restam dois dos três pano de boca originais da época. O pano de boca melhor visível em nossa visita ao teatro retrata o desenho de uma cortina que se fecha, sobrepondo o brasão da família real. Mais um simbolismo da época que retrata o “fim do show” da Monarquia no Brasil para começo da República. A última curiosidade sobre o pano de boca é que ele é içado verticalmente para o terraço sem dobrar ou enrolar. Isso acontece porque o pano de 15 metros tem uma camada de gesso que é preservado nestas condições.
O teto do Salão Principal
Assim como em vários teatros espalhados pelo mundo, é no teto do salão principal que encontramos uma bela obra de arte. No Teatro Amazonas não poderia ser diferente. Somos convidados a olhar para cima enquanto nos é explicado que as quatro alegorias da pintura tratam da representação da tragédia, ópera, dança e música. No quadrante da ópera, podemos ver alguns anjos coroando o busto de Carlos Gomes. Uma bonita homenagem ao compositor brasileiro que compôs O Guarani, primeira ópera brasileira a conquistar o mundo. A pintura é feita em tecidos lonados, imitando as tapeçarias do século XVIII. É verdade que já estão um pouco escurecidos pelo tempo, mas ainda é bonito de se admirar.
Outro detalhe intrigante fica pela pergunta da guia aos turistas que olham para cima: “Olhando para cima, qual monumento global vocês se recordam?” Depois de algumas tentativas frustradas dos participantes, ela explica que a resposta é a Torre Eiffel. Isso porque a imagem dos arcos de abóbada simula a vista que as pessoas teriam debaixo da Torre Eiffel quando olham para cima. Achou parecido? Pelo sim ou pelo não, agora você já sabe a resposta e vai poder responder quando visitar o teatro e ganhar alguns olhares admirados hehe.
Apesar do entusiasmo na resposta, essa alusão à Torre Eiffel está mais para uma lenda ou boato. A Torre Eiffel foi finalizada seis anos antes do Teatro ser entregue. Na época a Torre causava controvérsia entre os próprios franceses e não era esse monumento consagrado que conhecemos hoje. Ainda olhando para o teto, é possível identificar o ano de inauguração do teatro (1896), as letras TA (siglas de Teatro Amazonas) e o nome do Eduardo Ribeiro.
Demais salas do Teatro
Dando continuidade à visita, seguimos para algumas salas do teatro que acabam funcionando como um pequeno museu.
Passamos por uma sala dedicada à história, construção do teatro e seus personagens importantes. Há algumas informações sobre o Eduardo Ribeiro, Chrispim do Amaral, Domenico de Angelis, Enrico Quattrini entre outros. Há ainda uma linha do tempo desde a proposta de construção até os dias de hoje com fatos importantes como visita de alguns presidentes e apresentações especiais que ocorreram ao longo do tempo.
Durante o trajeto passamos por algumas salas onde explicações gerais são dadas. Entre elas uma sala com alguns itens de vestimentas da época e sapatilhas de bailarinos famosos que se apresentaram nas últimas décadas. Outra sala fica exposta uma maquete do teatro feita de Lego provavelmente elaborada no tempo da ditadura militar, considerando que a cor da maquete não é o rosa tradicional que vemos do lado de fora.
Nos corredores, entre uma sala e outra, podemos ver alguns mobiliários antigos. Inclusive alguns exemplares das antigas cadeiras que ocupavam a plateia na Sala de Espetáculos. Em uma das reformas onde foi possível instalar ar condicionado foi preciso trocar as cadeiras originais de palha indiana que ressecariam e não aguentariam o moderno sistema de refrigeração. Destaca-se ainda o chão feita em ripas de duas madeiras como referência ao mais famoso Encontro das Águas na região. A mais clara simboliza o Rio Amazonas ou Solimões e é feita de pau-amarelo. Já as ripas escuras que simbolizam o Rio Negro são feitas da madeira de Acapú.
Salão Nobre
Depois da Sala de Espetáculos, este é o lugar mais interessante do teatro. Inacabado quando o Teatro foi inaugurado, esse era o espaço exclusivo para os barões, políticos e demais pessoas poderosas e influentes da época. Era nesse salão que tratavam de negócios, política e fofocas também, porque ninguém é de ferro. Era um lugar para comer, beber e socializar enquanto ouvia-se música nos intervalos dos espetáculos.
O chão do salão em marchetaria
Na entrada do salão haviam escarradeiras. Desta forma, quando uma pessoa fosse entrar, poderia cuspir e mostrar que não havia sangue e com isso estava livre da tuberculose. Só o chão do salão já vale a visita. São doze mil peças em quatro tipos de madeiras diferentes encaixadas em um processo chamado marchetaria em que não se usa pregos, cola ou qualquer outro meio que não o simples encaixe das peças de madeira.
As pinturas do Salão Nobre
Nas paredes e no teto do salão podemos ver a tentativa do artista De Angelis em trazer a Europa para a Amazonia. Há uma mistura de figuras clássicas com elementos regionais. As colunas são feitas para lembrar troncos e os lustres as copas das árvores. Nas pinturas por todo o salão é possível identificar a natureza amazônica representada nas águas, árvores, musgos, nuvens, flores, pássaros, folhagens, florestas alagadas, animais, troncos e galhos retorcidos entre outros.
Mas vale lembrar que a pintura de uma natureza tropical e tão singular como a Amazônia era algo novo para os artistas italianos e tinha um viés político por quem havia encomendado. Desta forma a idealização de toda aquela natureza também trazia uma idealização dos habitantes que a compunha. Na maior parte das representações humanas encontramos figuras regionais. São pessoas em atividades de pesca, montarias e outras atividades corriqueiras da região, mas vestidos com casacões, longos vestidos e outros acessórios e até mesmo barco à vapor que incitam a presença de “hábitos de civilização” em meio à floresta.
O Guarani
Não só a idealização de quem compunha aquela sociedade era importante, mas também quem ali não estava representado. Foram deixados propositalmente de fora os povos nativos e os indígenas. Com exceção de um painel conhecido por Ceci e Peri, que ilustra uma passagem de O Guarani prestigiando a ópera brasileira mais famosa e super atual na época, havia um interesse em promover uma sociedade adversa à agressividade e própria para à vida em civilização. Neste cenário, os nativos indígenas não faziam parte do plano.
Apesar do grande esforço dos artistas da época em trazer a Amazônia para dentro daquelas paredes, seu conhecimento era do pouco que tiveram oportunidade de ver com os próprios olhos e daquilo que traziam da literatura ou da música. Podemos identificar essa falta de conhecimento em alguns elementos da fauna ou flora que não são propriamente da região estampados nas pinturas. Vale até como brincadeira quando estiverem no salão. Olhem ao redor e depois comentem aqui embaixo se você conseguiu identificar algum desses “erros” na sua visita.
O teto do Salão Nobre
A maior pintura do salão fica justamente no teto. Batizada por “A glorificação das Bellas Artes da Amazônia” e homenageando a música, a dança e a arquitetura, podemos ver uma mulher vestida de amarelo e braços abertos com o olhar em perspectiva e que deixavam as pessoas do salão curiosas. A técnica do olhar em perspectiva é aquela que ficou muito famosa no quadro de Monalisa, onde parece que a pessoa da imagem está te olhando não importa de onde no salão esteja. Completam ainda a pintura algumas mulheres, musas e alegorias que descem do Monte Hélicon sobre a floresta amazônica. Repare que há palmeiras nas bordas da pintura para representar a flora tropical.
O Salão Nobre é muito bonito e infelizmente fica-se pouco tempo para poder absorver todas essas nuances. Na verdade, todo o Teatro tem muitos detalhes para ser visto e compreendido e a visita guiada é de menos de uma horinha. Então já sabe! Para aproveitar bem seu passeio, salva esse post e chegue no Teatro Amazonas já sabendo todos os Detalhes que você já antecipou aqui.
Você pode combinar esse passeio com uma visita ao Museu do Seringal no mesmo dia. O museu traz informações sobre o Ciclo da Borracha vivido no Brasil no final do século XIX e começo do século XX, mas usando o cenário cinematográfico do filme A Selva inspirado no livro de mesmo nome do português Ferreira de Castro. Falamos sobre a nossa visita ao Museu do Seringal nesse post.
Para mais dicas de Manaus e outros lugares do mundo, curta nossa página no Facebook e no Instagram. Até a próxima!
7 comentários sobre “Manaus – Teatro Amazonas e uma visita guiada por sua história”